Processos de Pós-Colheita de Café: o que são e como funcionam
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Você tem costume de ler as informações no rótulo do seu café? Pode ser que já tenha reparado que em alguns aparecem os nomes “natural” ou “cereja descascado”, mas sabe o que significam?
Se discute pouco sobre o tema, mas a verdade é que essas etapas influenciam na bebida final mais do que você imagina! Por isso, nesse post, vamos explicar tudo sobre os processos de pós-colheita de café, sua importância e as diversas maneiras como é feito.
Índice do conteúdo
O que são os processos de Pós-Colheita?
O sabor do café que tomamos é totalmente diferente dos frutos que saem dos cafezais. Isso porque além da torra, que incorpora o gosto, a cor e o aroma que conhecemos, inúmeras etapas antes que são também fundamentais. Quando chega a época de maturação, os grãos saem das lavouras e passam pelos processos de pós colheita, que preparam o café em fruto para ser torrado e consumido.
É necessário que quem produz café preste muita atenção e tome muito cuidado com essas etapas, pois podem valorizar ou prejudicar (e muito!) a bebida na xícara. E não basta ter bom maquinário, é fundamental estar de olho no clima, na maturação dos grãos, na umidade, nas horas que passam no tanque, cada detalhe faz a diferença. Quando se trata de cafés especiais, então… todo cuidado é pouco!
Veja como é importante estar alerta a esses pontos:
- Planejamento: os grãos não amadurecem todos ao mesmo tempo, e se deve evitar ao máximo misturar cafés verdes com os que passaram do ponto. Por isso, quem produz tem que planejar exatamente o dia da colheita, que maquinário será usado, quantas pessoas envolvidas, conferir se tudo está limpo para receber os frutos etc.
- Clima e tempo: o café é bastante sensível e antes que os grãos estejam prontos para torra, têm que ter a umidade de 11%. Então, deve-se tomar cuidado com a quantidade de dias em que os grãos ficarão no terreiro, com a temperatura dentro do secador, com a previsão de chuvas… pois, se os grãos estiverem muito secos, podem se quebrar, e muita umidade faz com que os grãos fermentem.
- Higiene: o lavador, as tulhas, o terreiro, cada maquinário deve estar bem limpo. Isso porque mesmo um pouquinho de café que ficar como resíduo vai interferir no sabor quando ele for provado, prejudicando todo o lote.
Etapas dos processos de Pós-Colheita
Colheita: primeiro, deve-se averiguar se os frutos já estão no ponto e calcular a porcentagem de grãos verdes nos pés, para que se possa saber onde começar a colher. Em seguida, pode-se optar pelas colheitas mecanizada ou manual.
Colheita Mecanizada: o relevo na maior parte das regiões cafeeiras do Brasil colabora com o uso de máquinas, o que faz a colheita ser mais rápida. Em larga escala, usar colheitadeiras sai mais barato, considerando que a mão de obra humana inclui diversos direitos trabalhistas e o transporte para as fazendas.
As máquinas contém varetas vibratórias que, quando tocam o pé, fazem os grãos se soltarem dos galhos e irem para um compartimento atrás, onde galhos e folhas já são separados.
Colheita Manual: ter mais pessoas na colheita é indicado quando os pés são mais novos e sensíveis (entre três e quatro anos), pois as máquinas podem danificá-los e as pessoas podem selecionar melhor os frutos. Assim que caem no chão, os cafés são colocados em um tipo de peneira e lançados para cima, o que faz com que saiam as principais impurezas.
No sotaque do interior de Minas Gerais, a colheita é chamada de “Panha” e é um momento muito esperado pelos trabalhadores rurais, pois movimenta a economia, gera empregos e representa esperança para a última parte do ano.
Nos dois casos: é fundamental fazer o máximo para proteger os pés de café, primeiro para não atrapalhar a produtividade da próxima safra e segundo porque feridas na planta podem permitir a proliferação de fungos e bactérias. Assim que colhidos, os grãos devem esperar na sombra e sair da lavoura em no máximo quatro horas.
Lavagem e Separação: assim que passam pela balança, os cafés são levados a tanques com água e acontece a primeira separação: os grãos que passaram do ponto, foram comidos por brocas (praga) ou já estavam secos são chamados de “Boia” e flutuam, pois são menos densos. Então se separam dois lotes: os “Cerejas + Verdes” e os “Boia”, que são separados por ser de menor qualidade e porque não podem se misturar aos outros no processo.
Modalidades de obter os grãos depois da separação:
Via Seca (Café Natural): É o sistema mais antigo e usado no Brasil. Os cafés, depois de lavados, vão secar no terreiro do jeito como são naturalmente – ou seja, casca + mucilagem + polpa + pergaminho + semente, com cerca de 50% de umidade.
Esse método faz com que o café seja pouco ácido, bem doce e aromático, porque o grão seca em contato com a polpa, dentro da casca, e absorve mais os elementos que dão sabor.
A Via Seca exige mais atenção, pois justamente a polpa e a mucilagem são propícias para o desenvolvimento de fungos, por ser um lugar úmido e quente.
Via Úmida (Café Despolpado): O café passa por máquinas que tiram a casca e depois é deixado em tanques com água. A mucilagem que está ao redor do grão é como se fosse um mel e é consumida num processo de fermentação natural, que deixa só o pergaminho e o grão no final.
É mais caro que a Via Seca, mas é mais fácil de manejar e evita que o fruto apodreça no terreiro. Uma curiosidade é que a água desse processo não pode ser jogada no meio ambiente sem passar por tratamento antes.
Cereja Descascado: Os cafés passam por máquinas que tiram só a mucilagem, deixando a polpa com a semente. É a opção que está entre a Via Seca e a Úmida, ideal para lugares onde a umidade do ar é alta durante a colheita, favorecendo a qualidade do café.
Essas são as maneiras que preparam o café para o beneficiamento e a torra, mas vale lembrar que, quando falamos que café, nunca existe uma regra universal, né? Não necessariamente o natural será o mais doce ou o despolpado será azedo… tudo depende dos grãos e, às vezes, deixar fermentar um pouco pode até valorizar a bebida, acredita?
Secagem no Terreiro:
Os terreiros são espaços onde o café fica de 10 a 20 dias exposto para secar à luz do Sol e ao vento. Aí o café deve ser “rodado” no mínimo dez vezes ao dia, para que o calor os atinja do jeito mais uniforme possível. O ideal é proteger das chuvas sempre que possível, pois os grão têm que atingir o nível de umidade correto sem mofar.
Existem muitas boas-práticas adotadas nessa etapa, como:
- Nos primeiros cinco dias, os frutos devem ser espalhados em camadas finas (até 3cm) pois estão bem úmidos.
- No final da tarde, deve-se juntar o café em fileiras de até 20cm de altura que serão desfeitas pela manhã, para que tomem menos sereno de noite.
- Ordenar as fileiras no sentido que o sol nasce ou, em caso de chuva, na direção do declive do terreno.
- Nunca amontoar os frutos antes que não estejam grudando ao apertá-los.
- Não fazer os terreiros em lugares úmidos, como baixadas.
Os terreiros podem ser de terra ou cimento, que é mais prático de limpar. Também há os terreiros de pano, nos quais se coloca um tipo de tela para que os grãos não estejam em contato direto com o piso. Melhor ainda pode ser o terreiro suspenso, que coloca o café sobre panos que não tocam o chão.
Secador Artificial:
Os secadores são uma ótima opção para terminar a seca dos grãos depois do terreiro. São maquinários caros, mas que aceleram essa etapa importante. O café pode ser levado para o secador quando tiver 30% de umidade, para que chegue a 11%. A temperatura dos grãos não deve subir mais do que 45°C e devem ser despejados em tulhas (compartimentos grandes de madeira).
Beneficiamento:
O café deve descansar nas tulhas por 30 dias antes de ser beneficiado ou 10 dias no caso do café despolpado/descascado. Na etapa de beneficiamento, é separado por tipo, qualidade, tamanho e depois empacotado em grandes bags especiais para os grãos. Daí já deve ser provado e distribuído.
Pois é, fazer café não é tão simples assim né… Então, como uma xícara na padaria da esquina pode sair tão barato? Como um produto que leva tantos processos sai por menos de dez reais o pacote de 500g?
Não existe mágica, o único jeito do café commodity (esse comum que compramos no supermercado) ter tão baixo preço é que não é café puro de verdade! As grandes indústrias mesclam com cascas, grãos verdes, resíduos e, depois, torram bastante para esconder os defeitos. O resultado é uma bebida escura, amarga e queimada, que provoca azia em muita gente.
Já os cafés especiais são feitos com todo o cuidado em cada etapa, além de proporcionar uma remuneração mais justa a quem produz. Além de mais saborosos, são mais saudáveis e sustentáveis. Os cafés especiais são um grande universo. Acompanhe o blog da u.Coffee e conte conosco para explorá-lo!
4 Comentários
Franklin Toledo
Quanto de renda tem que dar o café em coco depois de beneficiado para ser considerado de boa renda?
Paulo Pacheco
Bom dia Franklin. São muitas as variáveis envolvidas na renda do agricultor. O preço é definido por mercado. Cafés melhores recebem mais, porém são mais caros (custo de produção). O agricultor começa a ter uma renda superior a R$100.000 ano (em média) após produzir mil sacas ano de café seco. Claro que se o café for de melhor qualidade essa renda crescerá. Importante lembrar que o agricultor trabalha sob enorme risco como geadas, pragas, secas. Ou seja, enorme risco, muito trabalho e dedicação para, ao final, obter algum ganho. Abs.
Beth
Olá, tenho Alguns grãos de café que eles mofaram . Um mofo verde nos grãos, o que é que eu faço tem algum jeito pra limpar?
Agradeço se tiver alguém para me responder
Paulo Pacheco
Olá Beth. De alguma forma o seu café estava com nível de umidade alta. Uma vez mofados não devem ser consumidos. Abraço