Viaje no café especial
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Viaje no café especial: turismo de experiência

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Seja nas férias ou em um fim de semana, já pensou em visitar uma fazenda de café? Imagine provar aquela experiência de xícara em mesa farta de quitutes e quitandas com direito a conhecer toda a produção?

Faça as malas! Em Minas Gerais, duas fazendas já estão famosas por oferecer o turismo de experiência em torno do café especial. É a valorização de um dos ciclos mais importantes dessa cadeia: cultivo e produção. A jornada Do pé à xícara remete às famosas visitas oferecidas em vinhedos e vinícolas, agradando todo tipo de turista. Além de encantar com belas paisagens, promete formar o público; seja para a cultura coffee lover ou para surfar na terceira onda do café.

UniqueUma das pioneiras no turismo de experiência cafeicultora é a Unique Cafés Especiais, originada na produção centenária da Fazenda Sertão. Localizada no município de Carmo de Minas, a 450 km da capital BH e a apenas 9km de São Lourenço; – cidade com o segundo maior parque hoteleiro de MG -, a fazenda abre as portas para os turistas desde 2010. Entretanto, a história da família com o fruto do cafeeiro é secular. É o que conta Hélcio Júnior, sócio no negócio e representante da quarta geração de produtores. “Trabalhamos com café desde 1912. A origem da produção data de 1907/1908. No entanto, consideramos a data do primeiro documento que comprova nossa comercialização”, conta.

Café de montanha

Localizada em área de terroir privilegiado, com média de 1.200m de altitude, a Fazenda Sertão produz diversas variedades de arábica. Seu foco está na produção de alta complexidade e na cafeicultura de montanha. “Estamos em uma região de altitude, fator determinante para agregar diferencial aos nossos cafés. É justamente em função da localização, da topografia, que os frutos de nossos cafeeiros amadurecem lentamente; é a condição ideal para a produção de cafés de qualidade. No mundo todo, cafés especiais são necessariamente produzidos em locais altos. Aqui, no Brasil, em países da América Central como Guatemala, São Salvador e Costa Rica; em vizinhos da América do Sul, caso da Colômbia; e mesmo na África, em países como a Etiópia. Então, quase a totalidade de cafés de alta complexidade especiais do mundo são produzidos em montanha”, explica Júnior.

Terroir Exclusivo

O produtor lembra que o investimento na produção de extrema qualidade se deu naturalmente, para aproveitar o terroir local. Mais uma vez, reforça que a altitude da região, famosa ainda pela riqueza de fontes hidrominerais que atraem para São Lourenço turistas de todo o país e do mundo, é um fator determinante. “Não temos como concorrer em termos de custos com cafés produzidos em locais baixos e planos, fator que permite mecanizar a produção. Assim, a única forma de sobreviver na montanha é através da qualidade. Graças ao bom Deus, cafés produzidos em montanha são necessariamente melhores do que cafés produzidos em locais baixos e planos, o que ocorre devido à maturação lenta do fruto”.

Ciente do diferencial, a aposta da fazenda na produção de qualidade começou a ficar famosa no final da década de 1990; foi quando surgiram os primeiros concursos mundiais. “Começamos a participar e atingimos resultados excelentes. Nesse momento, resolvemos agregar cada vez mais valor à produção e a apostar na cultura dos cafés especiais, nessa nova demanda.”

Você sabia?

Fazenda Uaimii

O que diferencia um café de montanha daquele produzido em local baixo e plano é que na altitude a temperatura é mais amena e as noites mais frias, fatores que promovem uma maturação mais lenta do fruto. Quando o café amadurece de forma lenta, desenvolve melhor óleos e ácidos. Esses componentes são responsáveis por, de fato, conferir sabor ao grão: doçura, acidez, corpo. Assim, a qualidade do café de montanha é superior em função da maturação lenta e homogênea do fruto. Colheitas manuais também promovem maior aproveitamento de frutos maduros e, com esse conjunto de fatores, cafés especiais de alta complexidade.

Slow food, slow coffee

Com sede secular – uma casa fundada no século 18 -, a fazenda abriu portas ao turismo de experiência por demanda recente. “A princípio, recebíamos apenas público especializado, clientes do mundo inteiro que chegavam para conhecer a produção e fazer negócios. Há cerca de 10 anos, começamos a notar uma procura também pelo turismo de experiência; em muito atrelada às famosas visitas a vinhedos e vinícolas, com tour pelos parreirais e degustação de uvas. É um reflexo à difusão e valorização do movimento slow food; ao crescimento do interesse sobre a origem do alimento; da bebida que consumimos.”

Logo, a proximidade à região turística levou o público a procurar a conexão com o café. “Muitos até num resgate de memórias afetivas, pois avós e outros parentes tiveram fazendas de café no passado. É atrativo rever aquele cenário, relembrar ou mesmo conhecer essa produção. A partir da demanda, começamos a abrir também para o público leigo. Construímos uma rota e passamos a oferecer esse produto, levando turistas até a fazenda, o que ajuda a formar público e a difundir a cultura dos cafés especiais”.

Atrações

No programa, o visitante parte da sede da Unique, no calçadão de São Lourenço, rumo à vizinha Carmo de Minas. Nomeado Do pé à xícara, o pacote de visita à Fazenda Sertão inclui transporte (de van, micro-ônibus, carro ou caminhonete cabine dupla, escolha que fica a critério do grupo), guia, água, degustação de quitutes típicos da mesa colonial e, claro, prova de cafés especiais.

“Nos inspiramos no Vale dos Vinhedos do Sul do Brasil; em Napa Valley, na Califórnia (EUA), locais em que há promoção do turismo de experiência, onde contam a história do produtor, num storytelling mesmo, que fala da importância dessa origem para toda a cadeia produtiva, mostra o quão ele é fundamental. Também em fazendas como a  La Esmeralda (Panamá), em outros locais da América Central, na Colômbia. E em outras culturas, na revalorização da cerveja artesanal, por exemplo, em outros produtores e negócios.”

No percurso até a fazenda o visitante se depara com vários mirantes. Pausa para apreciar a vista de uma das regiões mais bonitas do estado e para conhecer as etapas de cultivo e beneficiamento do café. “O público é convidado a testemunhar todo o processo: plantio, poda, floração, colheita, a depender da época do ano em que estará aqui. Ele acompanha a realidade de uma fazenda em plena atividade.”

Teste de xícara

Na intenção de educar o público a partir da experiência, Hélcio apresenta duas xícaras de café durante a degustação, numa brincadeira provocativa. “Em uma há café regular e, na outra, café de qualidade. A ideia é que o consumidor sinta a diferença gustativa e tome a sua decisão sobre a bebida que prefere”.

Ele conta ainda que a produção da Unique permite ao público experimentar diferentes cafés: “temos o orgânico, o descafeinado, cafés mais ácidos ou mais encorpados, descascados ou naturais. A ideia é promover essa experiência. Temos até o café de pássaro, que é do Jacu, pois queremos brincar com tudo isso”.  

Olha, sou um cara que acredita muito na cultura do café especial. Estamos no negócio há muito tempo e, finalmente, as pessoas estão percebendo essa diferença, dispostas a conhecer mais e a pagar pela especificidade e extrema qualidade, percebendo a diferença de degustação entre um café especial e um regular”.

Hélcio Júnior, produtor da Unique Cafés Especiais

O especialista reforça a importância de trocas não só entre especialistas e coffee lovers, mas também direcionada ao público comum.  “A rota do café é um projeto que tem como objetivo gerar experiência, formar público, educar. Quebrar esse estigma de que os melhores cafés do mundo estão lá fora, de que o Brasil não produz cafés tão bons. A ideia é agregar valor à marca, trazer novos entrantes, levar às pessoas esse tipo de experiência, fazer com que elas passem a tomar bons cafés, mostrar a diferença entre um bom produto e aquele de baixa qualidade. Tanto que nosso público é formado por coffee lovers, mas também por turistas comuns, pessoas que buscam experiências. A melhor idade, a molecada, os jovens, as famílias e mesmo os profissionais interessados em especialização. Tem de tudo. De crianças a maiores de 90 anos, ou seja, é um passeio para qualquer idade”, convida.

Em Ouro Preto

Seleção ManualLocalizada em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto – uma das cidades históricas mais famosas de Minas e quiçá do Brasil; a Fazenda Uaimii também abre as portas para turistas. “Nosso projeto do café é recente e desafiador, pois não estamos localizados em polos cafeeiros tradicionalmente conhecidos, mas a região reúne condições ideais para produção de cafés de qualidade principalmente devido a altitude. Tudo deu início a 2010 com a visita de pessoas que vivem em regiões reconhecidas pelo cultivo de cafés de alta qualidade.”

“Com a sugestão em mãos e sem pensar muito foi feito o plantio de 300 pés de café. Na sua primeira safra, para nossa surpresa e satisfação, obtivemos um retorno muito positivo da análise sensorial do café, com isso ampliamos a área de plantio com outras variedades. Para atender nosso mercado trabalhamos com duas origens, Chapada Diamantina, este trazido cru e beneficiado aqui na fazenda, a outra origem é o nosso próprio café cultivado na fazenda localizada na microrregião do Quadrilátero Ferrífero no município de Ouro Preto.”, contextualiza Igor Toé, produtor e torrador da marca de cafés.

Em Minas e também na Bahia (em Piatã, na Chapada Diamantina), os cafés Uaimii são cultivados acima de 1.200m de altitude, regiões que reúnem condições ideais para produção de cafés de alta qualidade. “Do plantio até a torra, seguimos rigorosamente diretrizes para a obtenção de cafés de qualidade. A começar pela altitude, passando ainda pela colheita seletiva manual e pela secagem em terreiro suspenso coberto”.

Visita sensorial

Igor conta que a fazenda foi aberta ao turismo de experiência para explorar a beleza natural magnífica da região; a estrutura da produção de cafés; e a proximidade entre a capital mineira e Ouro Preto, cidade turística por excelência.

A programação envolve opções de acordo com a demanda de grupos. Ela pode incluir café da manhã de fazenda, almoço, caminhadas contemplativas ou esportivas (trekking) em meio à natureza, visitas a cachoeiras, pescaria, ciclismo, turismo religioso, contemplação do pôr do sol e luau além, obviamente, da vivência do café, numa jornada Da planta à xícara. Os preços devem ser consultados diretamente com a equipe Uaimii, e são oferecidos a grupos de no mínimo 10 adultos. “No projeto Vivência do Café, o visitante tem uma experiência sensacional da planta até a xícara.”, convida o especialista, que define o público-alvo como “todas as pessoas interessadas em turismo de experiência”.

Repercussão

Quem conhece o passeio, segundo ele, deixa na fazenda um retorno pra lá de positivo. “O público se surpreende com o quanto o trabalho de produção de cafés especiais é minucioso e passa a entender melhor o significado de uma bebida de qualidade”. Aliás, um cenário que vai de vento em popa.

A cada ano que passa o brasileiro vem descobrindo e optando por novas fontes de consumo de alimentos de qualidade, e o café não foge à regra. Com crescimento de mercado anual na casa dos 15%, o café especial vem ganhando seu espaço. E se o consumo aumenta na ponta final da cadeia puxa o crescimento do número de produtores. Tanto que muitos estão deixando de produzir cafés commodities (ou em larga escala) para produzir cafés especiais e com mais valor agregado.”

Igor Toé, produtor e torrador do café Uaimmi  

O especialista afirma, ainda, que visitar a fazenda é uma oportunidade para conferir de perto a origem do produto. Trata-se de um movimento de valorização de todas as etapas produtivas, que favorece, ainda, a qualidade da experiência à mesa. “A cena dos cafés especiais permite ao público ampliar as escolhas, conhecer cafés de diferentes origens, de características peculiares e, assim, transformar a degustação e o hábito de tomar um café em um ritual repleto de sabor e de prazer”.

Passeio do Pé à Xícara – Fazenda Sertão; De São Lourenço para Carmo de Minas. Inclui transporte, visitas, alimentação. Custo: R$ 120 por pessoa. Serviço disponível pelo site, pelo Airbnb, Sympla, email, telefone. Informações: (35) 3332-6320 e www.uniquecafes.com.br.

Passeio da Planta à Xícara – Fazenda Uaimii, distrito de São Bartolomeu, município de Ouro Preto. Valores e outros detalhes devem ser conferidos diretamente com a equipe da fazenda. Informações: (31) 99707-7438, e-mail: cafeuaimii@yahoo.com.br e facebook: https://www.facebook.com/pg/cafeuaimii/about/?ref=page_internal.

 

Fotos

Divulgação/Unique Cafés Especiais

Divulgação/Uaimii Cafés Especiais

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