Torrefação do café: saiba o que é, sua importância e como é feita
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Se você se lembra da primeira vez que tomou um café especial, provavelmente se espantou com a cor da bebida, não foi mesmo? Esse líquido que mais parecia um chá não remetia muito às memórias do cafezinho na casa de vó… E o que vamos explicar nesse post tem tudo a ver com isso!
Um chá feito de café verde jamais teria o mesmo gosto do que o café que se bebe usualmente. E o agente responsável por tal mudança é justamente o fogo! Não é possível dar os parabéns a quem teve a ideia de torrar os grãos deste pequeno fruto, mas a verdade é que o calor transforma química e fisicamente o café, criando o sabor e aroma tão apreciados.
O assunto desse artigo e a verdade sobre a qual pouco se fala é justamente a importância da torrefação! Além de requerer muita ciência e precisão, é uma etapa crucial para ressaltar as melhores características do café.
Se o café especial tem uma cor diferente do comum, há uma explicação! Continue com a gente para entender tudo sobre a torra dos grãos e como ela atua sobre o seu café.
E você também pode aprofundar em conhecer os fatores que influenciam o sabor do café nesse outro post da u.Coffee sobre notas sensoriais!
Índice do conteúdo
Torrefação: o que é exatamente?
A etapa da torra é, certamente, fundamental para transformar o café na bebida incrível que é. O processo de transformar o café cru em grãos secos prontos para a moagem, fazendo com que se crie uma bebida encorpada, doce, de cor caramelo e de complexidade apreciada por qualquer bom bebedor de café.
Cada café é único e reage de maneira diferente dentro do torrador. Por isso a ciência da torra envolve tanta técnica, mas também um feeling de quem opera a máquina para fazer cada coisa no momento exato.
E como acontece a torra, enfim?
Esse processo, que dura de sete a quinze minutos e varia a temperatura dos grãos de 180°C a 240°C, apresenta três fases principais: a Pirólise, a Caramelização e a Finalização. A seguir, apresentaremos cada uma, explicando sua importância e efeitos no café e no resultado final.
A u.Coffee visitou uma torrefação de Belo Horizonte para ver de perto como uma torra ideal é feita, então os exemplos de temperatura e tempo citados podem ser usados como parâmetro. Vale lembrar que há algumas alterações para cada perfil de café! Você pode adquirir o café deles a qualquer momento na nossa loja virtual 😀
Na verdade, antes de se iniciar uma torra oficialmente, a primeira coisa feita é a torrefação de uma pequena amostragem, para que se possa conhecer perfil do café e criar um padrão de torra que extraia as qualidades desejadas dos grãos.
De acordo com mestres de torra profissionais, a torra é uma ciência que consegue extrair o melhor do café, podendo trabalhar com suas notas mais complexas!
Ok, agora sim: o café cru é colocado em um grande funil na parte de cima da máquina. Ele deve ter umidade entre 11% e 12% nessa fase. Quanto menor a quantidade, maior é a precisão. Então, quando o assunto é café especial, costuma-se torrar de três a dez quilos por vez.
A máquina possui um painel que indica a temperatura interna do tambor, do ar e dos grãos. Para o caso estudado, a torra de um blend de Catucaí a 280°C, o café verde foi liberado para dentro da máquina.
Como o café está na temperatura ambiente, o tambor inicialmente se esfria enquanto os grãos começam a absorver calor. Cada minuto deve ser acompanhado para se ter o café perfeito no final. Em média, a cada minuto, a temperatura dos grãos sobe 10°C.
Pirólise
É a fase na qual os grãos perdem umidade e massa. É nela que se trabalha o corpo da bebida, e os grãos passam da cor verde para amarelo. No Café Américo, os 8kg iniciais terminaram em 6,7kg por exemplo.
A sacarose começa a se transformar em glicose e frutose, carboidratos e aminoácidos se degradam: essa é a Reação Maillard – e ela faz toda a diferença para a etapa seguinte. É possível sentir no ar um aroma de massa, de pão assando.
Caramelização
Com os grãos entre 170°C e 190°C, acontece a fase da doçura. Nesse momento, os açúcares e óleos essenciais do café começam a ir para a parte exterior do grão e é por isso que a cor fica marrom (pense no açúcar se transformando em caramelo).
Durante a Caramelização acontece o Primeiro Crack, que é o momento em que os grãos se expandem devido à pressão interna e se abre uma rachadura no meio. O Segundo Crack é audível como o som de uma pipoca estourando e indica que o café já está quase pronto.
Quem é Mestre de Torra tem que ter todos os sentidos bem apurados para perceber o aroma do café, ouvir os “cracks” e acompanhar a mudança de cor. Um instrumento parecido com uma pá é usado para tirar alguns grãos e conferir a evolução da torra.
Finalização
O momento da Finalização é logo após o Segundo Crack, quando ter o timing perfeito faz toda a diferença. Nessa etapa se trabalha a acidez da bebida; quanto antes o café for tirado do torrador, mais ácido será no resultado final.
Os grãos são despejados para fora da máquina sobre uma chapa de metal cilíndrica com furinhos, para que a ventilação resfrie o café. Hastes parecidas com pás ficam girando para que o ar flua pelo café. Depois disso o café precisa “descansar” e pode ou não ser moído em seguida.
Há muita tecnologia envolvida na torra, como softwares e torradores que fazem quase tudo sozinhos. Um outro parâmetro muito utilizado é a curva de torra, que indica a temperatura, acidez e doçura dos grãos minuto a minuto, formando um gráfico. Por meio dela, se pode criar padrões de torra para manter a qualidade da bebida final.
E quais são os tipos de torra?
Torra Clara: esse tipo de torra faz com que o café fique suave, pouco amargo e mais ácido. É ideal para o café usado nas máquinas de espresso. Também pode ser chamada de torra light ou Cinnamon (canela).
Torra Média: representa o equilíbrio entre corpo, doçura, amargor e aroma. Dá um toque aveludado ao café e é indicada para os métodos coados.
Torra Escura: como citado anteriormente, quanto mais rápida for a etapa de Finalização, mais ácida a bebida, pois com o passar dos minutos a acidez vai diminuindo. A torra escura é apreciada por deixar o café com um toque amargo e saboroso. Os grãos mais torrados liberam mais óleos essenciais e é possível notar só de olhar para o café, pois eles ficam brilhantes.
É necessário, entretanto, tomar cuidado para não passar do ponto: a torra exagerada acaba queimando os grãos, enquanto a muito clara não ressalta suas qualidades.
O café commodity, que se compra por dez reais meio quilo, está longe de ser puro como o café especial. Por isso as indústrias o torram demasiadamente, escondendo os defeitos. O resultado é uma bebida bem escura, amarga e com um sabor totalmente padrão. Para conseguir beber, se toma bem quente e com muito açúcar.
Os efeitos de se tomar um café “queimado” não são nada bons para a saúde e podem provocar até azia. Por isso, os cafés especiais saem ganhando! 😀
Torrefação Caseira
Tradicionalmente o café era torrado em casa, no calor de um fogão à lenha. É possível encontrar pequenos produtores que fazem isso em cidades do interior usando a “bolinha”, uma espécie de panela giratória.
Vamos deixar aqui, entretanto, um passo a passo de como se faz para torrar o café em casa. Assim, você pode colocar em prática tudo que aprendeu nesse post, explorando o que achar de mais interessante sobre o café!
Primeiro, o mais óbvio: você precisa dos grãos verdes, crus. Se encontra para comprar em lojas especializadas em café. As opções são muitas, então escolha grãos de boa procedência e estude as características da variedade.
Um ponto muito importante que vale a pena repetir: quanto menos for torrado por vez, mais controle sobre a qualidade!
Um dos jeitos mais práticos é usando uma panela pipoqueira. Deixe em fogo médio e mexa os grãos com uma colher de pau constantemente, prestando atenção para não queimar.
Observe a mudança gradual de cor e o aroma liberado a cada etapa; é importante estar por perto o tempo todo. Após o Segundo Crack dos grãos, retire do fogo e passe o café para um outro recipiente que esteja à temperatura ambiente. Isso fará com que o calor se dissipe com mais facilidade.
Depois você pode também acrescentar ingredientes como raspas de casca de laranja, chocolate, canela… o que a criatividade ditar! Quando se trata de café, as possibilidades são infinitas!
A Torra Ideal
Como é possível concluir, a torrefação perfeita não é aquela que seja de uma cor ou de outra. É a que realça o que há de melhor no café, respeitando o perfil de torra de cada um!
Agora que você já sabe os principais aspectos sobre torrefação de café e como ela é feita, sinta-se à vontade para deixar um comentário no post e tirar alguma dúvida!
17 Comentários
Eber
Sugestão:
No início do post usa-se muito o termo “café verde” quando na verdade deveria se usar café cru. Confunde o leitor leigo pois café verde é aquele que está no pé e que não devem ser colhidos para torrefação.
Paulo Pacheco
Boa tarde Eber. Sua sugestão foi muito boa e fizemos a modificação no texto. Valeu!
Andre
Cerca de 15 anos compro um café de qualidade e torro em casa na pipoqueira, prefiro a torra média não gosto da clara porque deixa pra mim um azedo que não gosto, mas café maduro e de qualidade é muito difícil de se encontrar, a maioria apanham verdes.
Celio pedro dos santos
Gostei muito das informações a respeito d torrefação assim sendo, eu trabalho produzindo e vendedo café artesanal. Meu muito obrigado.
Paulo Pacheco
Obrigado Celio Pedro. Seja bem vindo ao nosso blog.
Mateus Ribeiro
Boa tarde, para os grãos de açai, segue esse mesmo procedimento?
Paulo Pacheco
Oi Mateus,
Me desculpe, realmente não conhecemos o processo de industrialização do açaí. Abs
Valdeci Natalino dos Santos
Boa noite. Vi alguma coisa sobre torragem do café que se adiciona sangue de boi ou sangue suino. Nunca vi isso mas fiquei em dúvida
Paulo Pacheco
Boa tarde Valdeci. Teve um vídeo “fake” rodando na internet sobre adição de sangue de boi ao café no processo da torra. Cara, é totalmente falso e não faz o menor sentido. abraço
Viviane BARALDI da Silva
Gostei das dicas sou produtora de café e agora estou torrando e vendendo,está saindo muito bem,aqui estamos torrando no fogo de lenha pra m torrador manual.por tudo q li estou certa na torrefação,meus clientes estão satisfeitos.
LEANDRO MARQUES
Bom dia.
Que tipo de café é recomendado para que tem gastrite e azia.
Quais ingredientes a indústria cafeeira acrescenta ao café. Já ouvi falar do milho e sei que é permitido uma porcentagem de casca de café.
Obrigado!
Paulo Pacheco
Boa tarde Leandro, cafés especiais + torra média tendendo a clara, agridem muito menos o estômago. Ainda sim, veja aí com seu médico e dependendo, infelizmente café estará fora da sua dieta, ok!?
Importante sim saber que cafés de torra muito escura e “extra-forte” são próximos ao “carvão” e agridem o estômago.
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Rafael G R Moraes
Olá, quando fala em realizar a torrefação em porções pequenas de 3 a 10kg, e fala de temperatura do tambor, imagino um forno ou equipamento específico. Qual é? Durante o processo imagino q seja interessante promever o movimento dos grãos, correto?
Leticia Portugal
Olá, Rafael! Como vai?
Essa torra é de fato realizada em um equipamento específico: o torrador. Nele, os grãos ficam o tempo todo girando enquanto a temperatura sobe de forma gradual. Essa quantidade de café é recomendada para garantir uma torra uniforme e adequada. Após o crack, todos os grãos são liberados e resfriados para evitar que continuem aquecidos e acabem queimando.
Um abraço, Letícia.
Marcelo
Bom dia, otima materia , gostaria de tirar uma duvida apos a torra , qual o tempo que devemos esperar para a moagem ? Pois li que o cafe apos a torra libera gas co2.
grato pela atençao
Paulo Pacheco
Oi Marcelo, o café libera CO2 até aproximadamente 10 dias da torra. Se muito “novo” você verá no aumento da crema, mas o produto ainda não está em ponto ideal de consumo. Abraço