Cápsulas de Café versus Café Filtrado: Qual é Mais Sustentável?

Descubra se as cápsulas de café realmente têm menor impacto ambiental do que o café filtrado. Analise os dados e faça escolhas mais conscientes.
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Introdução

Recentemente, um debate surgiu a partir de um artigo acadêmico publicado por pesquisadores em Quebec, sugerindo que as cápsulas de café podem ser melhores para o meio ambiente do que o café tradicional filtrado. Essa afirmação surpreendeu muitos amantes de café e levantou dúvidas sobre sua veracidade. Então, vamos analisar os principais pontos desse estudo, questionar suas conclusões e entender melhor o impacto ambiental de diferentes métodos de preparo de café.

Como o Estudo Foi Realizado

Primeiramente, os pesquisadores analisaram o impacto ambiental de quatro métodos de preparo de café: cafeteiras elétricas para café filtrado, cápsulas de café (como as da Nespresso), prensa francesa e café instantâneo. Para isso, calcularam a emissão de carbono de uma xícara de 280 ml, considerando etapas como cultivo, torrefação, transporte, preparo e descarte dos resíduos.

O estudo concluiu que, devido ao menor uso de café por cápsula e à eficiência energética das máquinas de cápsulas, esse método apresentaria uma menor emissão de carbono em comparação ao café filtrado tradicional. No entanto, há várias inconsistências e suposições problemáticas que precisam ser discutidas.

Problemas nas Premissas do Estudo

1. Quantidade de Café Utilizada

O estudo aponta que 25 gramas de café são usados para preparar uma xícara de café filtrado, enquanto as cápsulas utilizam cerca de 14 gramas por porção. Essa diferença levanta dúvidas, pois 25 gramas é uma quantidade acima do padrão recomendado para o preparo de 280 ml de café filtrado. Além disso, no caso do café instantâneo, os números apresentados também parecem inflacionados, com 12 gramas de café instantâneo sendo utilizados, quando o usual seria cerca de 3 gramas.

2. Impacto do Cultivo de Café

Um dos maiores fatores de emissão de carbono no café vem do cultivo. O estudo considera uma média de 6 kg de emissões de CO2 por quilo de café cultivado, mas há uma grande variação dependendo das práticas agrícolas. O transporte aéreo de café, citado como uma fonte significativa de emissões, é algo raro em cafés comerciais e normalmente restrito a cafés especiais enviados para competições ou mercados de nicho.

3. Descarte e Compostagem

O estudo sugere que o papel de filtro usado no café filtrado tem um impacto ambiental maior do que o descarte de cápsulas de alumínio. Isso ignora que filtros de papel podem ser compostados, enquanto cápsulas de alumínio exigem reciclagem adequada, o que nem sempre é garantido. A alegação de que o alumínio é “inócuo” em aterros sanitários também é questionável, considerando o impacto da extração e produção desse material.

Além disso, a borra do café pode ser reutilizada para várias ações sustentáveis. Recentemente a Unique publicou um vídeo e um artigo que fala sobre esse assunto, mostrando que a borra de café pode ser reutilizada como adubo, e o filtro de papel usado como matéria-prima para fazer diversos artesanatos.

Por que o Café Instantâneo Surpreendeu

O café instantâneo se destacou no estudo por seu baixo impacto energético. Isso ocorre porque o processo industrial de produção do café instantâneo extrai até 50% dos compostos solúveis do café, enquanto métodos como o café filtrado extraem apenas 20-25%. Isso significa que é possível produzir mais café solúvel utilizando menos grãos, reduzindo o desperdício desde o início do processo.

Além disso, o café instantâneo apresenta vantagens no transporte e armazenamento. Por ser um produto desidratado, ele é mais leve e ocupa menos espaço, o que reduz significativamente as emissões de carbono associadas à logística. Outra vantagem está na praticidade: sua preparação exige menos equipamentos e energia, já que basta diluí-lo com água quente.

No entanto, é importante observar que a produção inicial do café solúvel envolve processos industriais intensos, como a secagem por pulverização ou liofilização, que podem consumir bastante energia. Apesar disso, a eficiência energética ao longo de toda a cadeia de produção torna o café instantâneo uma escolha interessante para quem busca reduzir a pegada de carbono.

Máquinas de Cápsulas: Eficiência Energética e Desafios

As máquinas de cápsulas utilizam uma pequena quantidade de água aquecida rapidamente, o que as torna energeticamente eficientes para preparar uma única porção no dia a dia. Isso é possível graças a sistemas internos que aquecem apenas a quantidade necessária de água, sem desperdiçar energia com grandes volumes ou tempos de espera prolongados. Por isso, muitas dessas máquinas podem estar prontas para uso em menos de dois minutos, contrastando com cafeteiras tradicionais ou máquinas de espresso mais complexas, que exigem mais tempo e energia para estabilizar a temperatura.

Por outro lado, a conveniência das cápsulas traz desafios ambientais significativos. Para muitos consumidores, uma única cápsula não é suficiente para obter uma dose satisfatória de cafeína, o que aumenta o número de cápsulas utilizadas e, consequentemente, os resíduos gerados. Embora as cápsulas de alumínio sejam recicláveis, o processo de reciclagem depende de ações específicas do consumidor, como o descarte correto e o envio para programas de reciclagem. Quando essas etapas não são seguidas, as cápsulas acabam em aterros sanitários, gerando impacto ambiental.

Máquinas de Cápsulas

Outro aspecto relevante é a produção do alumínio, que requer uma quantidade considerável de energia e recursos naturais. Mesmo com reciclagem, o ciclo de vida do alumínio pode ter um impacto maior do que materiais mais simples, como filtros de papel, especialmente quando esses são compostados adequadamente. Além disso, as cápsulas muitas vezes incluem camadas de plástico, complicando ainda mais o processo de reciclagem.

Portanto, embora as máquinas de cápsulas ofereçam eficiência energética no uso doméstico, o impacto ambiental total depende de fatores como a origem das cápsulas, os hábitos de consumo e as práticas de descarte adotadas pelos usuários.

Afinal, o que Realmente Importa?

Mais do que discutir qual método de preparo é “menos ruim” para o meio ambiente, é essencial reconhecer que o maior impacto ambiental do café está nas práticas agrícolas. Cafés cultivados de maneira sustentável, em sistemas sombreados e com manejo adequado de recursos naturais, têm um impacto ambiental significativamente menor do que os cultivados em monoculturas intensivas que demandam altas quantidades de fertilizantes e irrigação.

Embora o estudo sugira que as cápsulas de café podem ser mais ecológicas que o café filtrado, suas conclusões são baseadas em premissas problemáticas. Métodos como o café filtrado, quando preparados de maneira eficiente e com resíduos compostados, podem ser tão ou mais sustentáveis quanto as cápsulas.

No final das contas, a sustentabilidade no consumo de café vai além do método de preparo. Escolher cafés cultivados de forma ética e sustentável, evitar desperdícios e reciclar materiais são ações que realmente fazem a diferença. O impacto ambiental do café é complexo e, enquanto consumidores, podemos fazer escolhas mais conscientes para apreciar essa bebida com responsabilidade.

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