Como as cafeterias atrapalham a reputação do café especial?

O que é café especial de verdade? Entenda por que o termo “café especial” está sendo banalizado e como isso afeta sua experiência na xícara!
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Introdução

Hoje em dia, não faltam cafeterias que se autodenomina “especialistas em cafés” ou divulgam que servem “café gourmet. Mas se você perguntar para os apaixonados por café – ou melhor, se perguntar para James Hoffmann –, quantos desses lugares realmente entregam uma experiência de café extraordinária, a resposta seria: poucos, bem poucos.

A verdade é que o termo “café especial” ou “café gourmet” virou uma tendência… e como toda tendência, muita gente surfa nela sem saber nadar.

Equipamento caro não garante café bom

É cada vez mais comum entrar em uma cafeteria com máquinas La Marzocco reluzentes e moedores Mahlkönig de última geração no balcão. Mas será que os baristas por trás dessas máquinas foram realmente treinados para extrair o melhor de cada grão?

Infelizmente, muitas vezes não. É como comprar um Fórmula 1 e deixar nas mãos de quem nunca tirou a carteira de motorista.

E nem sempre o problema está só na técnica. Algumas cafeterias cobram preços premium por cafés que nem sequer atingem os padrões mínimos de qualidade da categoria, ou usam bons grãos em equipamentos mal higienizados, comprometendo completamente o sabor final.

Barista servindo café gourmet na cafeteria

A grande confusão do que é “café especial”

Diferente do selo “orgânico”, que exige certificação, o termo “café especial” ainda é amplamente interpretativo. Segundo o professor Spencer Ross, da Universidade de Massachusetts Lowell, ninguém consegue definir com precisão o que esse rótulo realmente significa.

A definição mais comum vem da Associação de Cafés Especiais (SCA), que considera especial um café com pontuação acima de 80 numa escala de 100. Mas até isso está mudando: muitos já argumentam que apenas a nota na xícara não é suficiente para justificar o status de especial.

Gostamos muito do exemplo dado pelo Gabriel Guimarães que esclarece bastante qual é a diferença do café especial para os outros tipos de cafés. O café especial, antes de chegar na xícara, começa na seleção da fruta madura, o que influenciará totalmente as notas sensoriais da bebida.

O café não é como a banana, ou seja, se você colher a banana antes do ponto de maturação e colocá-la em uma fruteira, logo ela amadurecerá e estará pronta para ser consumida. No caso do café, se o fruto foi colhido verde, ele será para sempre verde, e assim como não é agradável consumir frutas verdes, um café colhido antes da sua maturação resultará em uma bebida desagradável. O mesmo acontece quando os frutos são colhidos podres e são mal processados. Assista ao vídeo abaixo para entender os detalhes!

A armadilha da “gourmetização”

O rótulo de cafés premium ou gourmets vende e muito! Só no setor varejista global, estima-se que o mercado movimente mais de 12 bilhões de dólares, com mais da metade desse valor vindo de produtos premium.

Ou seja, chamar um café de “especial” virou estratégia de marketing. Não é à toa que o crescimento do mercado especial está a todo vapor: quase 20% ao ano nos EUA, 15% na Ásia-Pacífico e 9% na Europa. Mas será que todo esse crescimento é legítimo?

Quando o “especial” vira genérico

A banalização do termo lembra muito o que aconteceu com “artesanal” no mercado de alimentos. Palavras que deveriam remeter a cuidado, técnica e qualidade viram sinônimos de “produto um pouco mais caro”.

Com isso, marcas sem preparo técnico ou sem ingredientes de qualidade se aproveitam da aura do café especial e colocam o rótulo “premium” ou “gourmet” à venda – arriscando a reputação de quem realmente faz café com excelência.

A diluição da Terceira Onda

A chamada terceira onda do café surgiu nos anos 2000 com uma missão clara: elevar o café ao nível de arte, com foco em transparência, qualidade e preparo preciso. Baristas eram verdadeiros artesãos, apaixonados pelo que faziam.

Mas o crescimento trouxe desafios. Quanto mais o movimento se popularizava, mais difícil ficava manter os princípios. Cafeterias especializadas se multiplicaram, mas nem todas mantiveram os padrões. A linha entre o “especial de verdade” e o “parece especial” foi ficando turva.

Marcas como McDonald’s e Folgers tentaram entrar no jogo lançando linhas “gourmetizadas”, como o McMór na Irlanda ou a linha 1850 da Folgers nos EUA. Resultado? Falta de conexão com o público mais exigente, e, em alguns casos, até protestos.

A supervalorização da técnica (e do equipamento)

A busca pelo “café perfeito” criou um mercado à parte de equipamentos e métodos. A ideia de que existe uma única maneira ideal de preparar café acabou ofuscando o básico: o sabor, a origem e a experiência.

Mesmo marcas como a Nespresso, que se associou à Blue Bottle para lançar o Blend No. 1 em cápsula e grão, tentam unir conveniência com o charme do artesanal. Mas será que isso entrega o mesmo valor?

O que pesquisas mostram é que o que realmente conquista o consumidor é a combinação de qualidade, sabor e conhecimento do barista.

Quando a promessa falha, todos perdem

A explosão de cafeterias que usam o selo “especial” sem entregar uma experiência à altura traz riscos para o consumidor e para a cadeia de valor do café.

A decepção em um café que prometia muito e entregou pouco gera desconfiança. O consumidor começa a se perguntar se vale mesmo pagar mais caro por um produto que não entrega diferença perceptível.

Marcas como o McDonald’s, inclusive, usam essa frustração como combustível para suas campanhas: “Por que pagar mais se o resultado é o mesmo?

E isso é perigoso. Uma queda na confiança do público pode gerar retração na demanda por cafés de qualidade, impactando diretamente os produtores, importadores e torrefadores que apostam no valor agregado do produto.

Um caminho de volta à autenticidade

Por outro lado, essa crise de confiança também pode abrir espaço para algo positivo: a busca genuína por experiências autênticas.

Pesquisas mostram que 91% dos consumidores preferem marcas que consideram autênticas. E 62% afirmam que trocariam sua marca atual por outra que pareça mais verdadeira.

Talvez essa seja a oportunidade para o mercado de cafés especiais resgatar seus princípios. Criar definições mais claras, educar o consumidor e, principalmente, manter o foco na qualidade real – da fazenda à xícara. E você, o que acha? Deixe aqui seu comentário!

Cliente bebendo café em cafeteria

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